Em uma era em que tecnologia e natureza convergem para soluções inovadoras, um projeto pioneiro surge como um farol de esperança para a conservação da biodiversidade.
O Instituto Mamirauá, destacada instituição brasileira de pesquisa, em colaboração com a Universidade Politécnica da Catalunha, na Espanha, lançou há sete anos o ambicioso Projeto Providence. Este projeto representa um marco no uso da inteligência artificial para a preservação ambiental, especialmente na vasta e diversificada região amazônica.
O objetivo do Providence é audacioso: monitorar em tempo real a biodiversidade da Amazônia, desde a Cordilheira dos Andes até os manguezais na costa do Pará, na foz do Rio Amazonas. Mais do que uma demonstração de inovação tecnológica, este projeto é um testemunho da colaboração internacional em prol da sustentabilidade ambiental.
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A primeira etapa do projeto concentrou-se no desenvolvimento e prova de conceito de módulos de monitoramento robustos, capazes de resistir às condições extremas da maior floresta tropical do mundo.
Estes módulos, disponíveis em versões terrestres e aquáticas, são equipados com câmeras de alta resolução e microfones sensíveis, capazes de captar uma vasta gama de frequências sonoras, muitas das quais inaudíveis ao ouvido humano.

Na segunda fase, realizada nos últimos quatro anos, a tecnologia foi refinada e testada em uma unidade de conservação. Vinte módulos foram instalados na Reserva Mamirauá, no Médio Solimões, e os dados coletados são transmitidos diariamente via satélite para uma base de dados em Tefé, Amazonas.
A inteligência artificial desempenha um papel crucial no processamento desses dados. Por exemplo, o monitoramento acústico ao longo dos anos permitiu o treinamento de algoritmos para identificar diferentes espécies animais.
Essa tecnologia avançada requer uma vasta coleção de gravações de alta qualidade para cada espécie, validadas por especialistas. Até agora, 45 espécies foram validadas, com o objetivo de alcançar cem até 2024.
Além de monitorar a biodiversidade, o projeto já resultou em descobertas significativas, como a detecção de espécies e comportamentos animais previamente desconhecidos. Por exemplo, o uso de hidrofones permitiu a detecção de peixes-boi no Lago Mamirauá, uma espécie que não era registrada na área desde 2015.
O projeto Providence não é apenas uma ferramenta de pesquisa; é uma iniciativa que visa a implementação sistemática e duradoura de tecnologias para a conservação da biodiversidade. Seu potencial se estende a unidades de conservação, terras indígenas e outras áreas críticas para a preservação ambiental.
Este projeto inovador alcançou reconhecimento internacional, sendo um dos finalistas do prestigiado prêmio XPRIZE Rainforest, que celebra os avanços na proteção da biodiversidade. O resultado deste prêmio será anunciado em julho, em Manaus, Amazonas.
O Providence é um exemplo brilhante de como a tecnologia, quando aplicada com visão e colaboração, pode abrir novos caminhos para a conservação ambiental. Ele não apenas destaca o papel crucial da IA na monitoração e preservação da biodiversidade, mas também serve como um modelo para futuras iniciativas globais de conservação.
À medida que avançamos para um futuro mais sustentável, projetos como o Providence iluminam o caminho, mostrando que a inovação e a natureza podem, de fato, andar de mãos dadas.