Mato Grosso do Sul está prestes a vivenciar uma revolução logística com a consolidação do Corredor Bioceânico, uma rota estratégica que promete reduzir custos e encurtar distâncias para os mercados internacionais. Entre os principais beneficiados está o setor de carne bovina, um dos pilares da economia estadual, que poderá alcançar mercados sul-americanos e asiáticos com mais agilidade e competitividade.
Um novo caminho para a carne bovina
Atualmente, Mato Grosso do Sul exporta cerca de 360 mil toneladas de carne bovina para o Chile, utilizando três principais rotas logísticas. Uma das opções é o transporte via Ponta Porã, passando por Assunção (Paraguai), seguindo para a Argentina e, por fim, ao Chile. Outra alternativa envolve os estados do Paraná e Rio Grande do Sul, atravessando a Argentina até o destino final.
Com a implementação do Corredor Bioceânico, essa logística será transformada. A nova rota utilizará o trajeto via Porto Murtinho, cruzando Carmelo Peralta (Paraguai), atravessando a Argentina e chegando à fronteira chilena. Essa mudança pode reduzir significativamente o tempo e os custos de transporte, tornando os produtos sul-mato-grossenses mais competitivos no mercado internacional.
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Impacto nas exportações para o mercado asiático
Além de otimizar a exportação para o Chile, o corredor poderá abrir novas perspectivas para a carne bovina brasileira no mercado asiático. Atualmente, os produtos destinados à China e ao Japão enfrentam uma jornada longa e custosa, sendo transportados até o Porto de Santos e atravessando o Canal do Panamá ou contornando o continente africano antes de chegar ao destino.
Com a nova rota, a carne poderá ser enviada aos portos chilenos de Antofagasta e Iquique e, de lá, seguir pelo Oceano Pacífico. Essa alternativa pode reduzir o tempo de transporte em até 12 dias e encurtar a distância percorrida em mais de 5.000 km.
“O principal benefício da Rota Bioceânica para a indústria frigorífica de Mato Grosso do Sul será a ampliação das exportações para o Chile e o Peru. Para outros mercados globais, a viabilidade econômica dependerá da competitividade dos custos logísticos no novo corredor”, explica Sérgio Capucci, vice-diretor do Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados do Estado de Mato Grosso do Sul (Sicadems).
Os desafios para tornar a rota viável
Apesar das vantagens que o Corredor Bioceânico oferece, ainda existem desafios a serem superados. Um dos principais é o custo do frete rodoviário, que precisará ser competitivo para garantir a adesão da indústria frigorífica a essa nova alternativa logística. Atualmente, as cargas com destino ao mercado asiático saem pelo Porto de Santos, e a viabilidade da nova rota dependerá da equivalência ou redução dos custos.
Outro obstáculo está na burocracia aduaneira dos países envolvidos. Segundo Cláudio Cavol, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Rodoviário de Cargas de Mato Grosso do Sul (SETCEMS), os trâmites alfandegários precisam ser otimizados para evitar atrasos.
“Hoje, os caminhões podem levar de 7 a 8 dias apenas para cruzar Mato Grosso do Sul e o Paraguai, devido à burocracia aduaneira. Para que a Rota Bioceânica seja eficaz, é essencial evitar longos períodos de espera nas aduanas”, ressalta Cavol.
A infraestrutura das rodovias também é um ponto crítico. As estradas que compõem o trajeto precisam estar em boas condições para suportar o aumento do fluxo de transporte. Isso inclui melhorias na sinalização, construção de pontos de apoio aos motoristas e garantia de segurança para o transporte de cargas.
Capacitação e adaptação do setor logístico
Para que a nova rota funcione de maneira eficiente, é necessário investir na capacitação dos profissionais que atuarão nesse modal logístico. Muitos motoristas da região ainda não têm experiência no transporte internacional, o que pode ser um entrave inicial para a operacionalização do corredor.
Atento a essa necessidade, o SETLOG, em parceria com a Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), ofereceu um curso de formação para motoristas em Jardim (MS), preparando profissionais para atuar no transporte internacional. A primeira turma já concluiu o curso e estará apta a operar dentro da nova realidade logística.
Expectativas e impacto econômico
Caso as questões estruturais e burocráticas sejam resolvidas, a expectativa é que o volume de transporte no estado cresça entre 5% e 10% ao ano. Esse crescimento pode impactar diretamente o Produto Interno Bruto (PIB) estadual, consolidando Mato Grosso do Sul como um polo estratégico para a exportação de carne e outros produtos agropecuários.
O governador Eduardo Riedel destaca que a Rota Bioceânica representa um marco histórico para a economia regional.

“Estamos testemunhando, dia após dia, a concretização de um sonho de gerações. Teremos um corredor de exportação e importação próspero, conectando o Centro-Oeste brasileiro ao Oceano Pacífico, facilitando o comércio com países vizinhos e mercados globais”, afirma.
Se os desafios forem superados, a Rota Bioceânica pode posicionar Mato Grosso do Sul como um dos principais hubs de exportação do Brasil, atraindo novos investimentos, aumentando a competitividade das indústrias locais e impulsionando o desenvolvimento econômico da região.