Mato Grosso do Sul avança na transição energética com tecnologias de captura e armazenamento de CO2

André Rocha 914 visualizações
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Com mais de 90% de sua matriz elétrica proveniente de fontes renováveis, Mato Grosso do Sul se destaca como um exemplo para o Brasil ao implementar uma política robusta de transição energética.

O Estado, já reconhecido pela geração de energia limpa, agora busca fortalecer seu compromisso ambiental ao adotar tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CCS, na sigla em inglês), alinhando-se aos objetivos globais de mitigação das mudanças climáticas.

Em 2023, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a capacidade instalada de geração de energia em Mato Grosso do Sul atingiu 7,236 milhões de quilowatts (kW), sendo 49,3% oriundos de usinas solares, 37,21% de biomassa e 5,51% de centrais hidrelétricas. Apenas 7,98% da energia gerada no Estado veio de fontes não renováveis, como termelétricas a gás e óleo diesel.

Esse perfil coloca Mato Grosso do Sul em uma posição estratégica para liderar a transição energética no país, destaca Artur Falcette, secretário executivo de Meio Ambiente da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação.

Mato Grosso do Sul

Desafios e Oportunidades na Transição Energética

Apesar dos avanços na diversificação da matriz energética, Artur Falcette ressalta que a mudança vai além de substituir fontes de energia. “Precisamos desenvolver e implementar tecnologias de captura e armazenamento de CO2 para cumprir as metas de descarbonização e combater as mudanças climáticas”, afirma.

Ele enfatiza que a captura de carbono será essencial para alcançar as metas globais de redução de emissões de gases de efeito estufa.

Em um simpósio realizado recentemente no auditório LivingLab do Sebrae, em Campo Grande, Nathalia Weber, engenheira de petróleo e cofundadora da CCS Brasil, abordou os desafios e custos elevados da transição para fontes limpas e renováveis.

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Ela sugeriu que a captura de CO2 de emissões de usinas termelétricas e seu armazenamento em rochas subterrâneas pode ser uma solução viável no curto prazo. “A tecnologia de captura de carbono pode ser aplicada em diversas indústrias, reduzindo significativamente as emissões de gases poluentes”, explica Nathalia Weber.

Potencial de Mato Grosso do Sul na Captura de CO2

O Estado possui grande potencial para a aplicação de tecnologias de CCS, especialmente na indústria de bioenergia. As emissões de CO2 geradas pela produção de etanol, por exemplo, somam cerca de 5 milhões de toneladas anuais, que poderiam ser capturadas diretamente das chaminés das usinas, onde o gás já é emitido de forma pura. “Isso elimina a necessidade de tecnologias complexas e caras para filtrar e purificar o gás”, afirma Nathalia Weber.

Para Érico Paredes, diretor técnico da Biosul (Associação de Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul) e membro da Câmara Técnica de Energias Renováveis, o setor de bioenergia investe continuamente em novas tecnologias para melhorar a eficiência e ampliar a gama de produtos.

“Estamos trabalhando para superar desafios relacionados à escala de produção, infraestrutura e custos de implementação dessas tecnologias. Parcerias estratégicas entre empresas, governos e instituições de pesquisa serão essenciais para que isso aconteça”, destaca Paredes.

Políticas Públicas e Incentivos Fiscais

Um dos principais fatores para o avanço das tecnologias de captura e armazenamento de carbono é o apoio de políticas públicas que incentivem a inovação e a adoção dessas soluções.

“As políticas de incentivos fiscais são cruciais para viabilizar a implementação dessas tecnologias, que exigem investimentos significativos”, ressalta Paredes. O governo estadual acompanha atentamente as regulamentações discutidas em nível nacional, como o Projeto dos Combustíveis do Futuro, recentemente aprovado pelo Congresso Nacional.

O projeto de lei estabelece diretrizes para a captura e armazenamento de carbono no Brasil, fornecendo a base legal para que estados, incluindo Mato Grosso do Sul, desenvolvam suas próprias regulamentações. Falcette acredita que a aprovação dessa legislação será um marco para o avanço da transição energética no Estado.

Metas Globais de Descarbonização

As metas globais de descarbonização são ambiciosas. Em 2020, a capacidade mundial de captura de carbono era de 40 milhões de toneladas de CO2 por ano. A expectativa é que esse número suba para 1,6 bilhão de toneladas até 2030 e alcance 7,6 bilhões de toneladas em 2050.

Nathalia Weber alerta que essas metas não serão atingidas apenas com reflorestamento, redução do consumo energético e substituição de fontes poluentes por renováveis. “Precisamos combinar diferentes processos, como o uso de tecnologias de captura de carbono, para alcançar esses objetivos”, afirma.

Para Artur Falcette, a transição energética é um processo complexo que exige múltiplas abordagens e soluções tecnológicas. “Estamos construindo uma política estadual de transição energética que seja viável economicamente, eficiente do ponto de vista operacional e segura para os empreendedores e a população. Mato Grosso do Sul está atento às inovações e se prepara para liderar essa transformação”, conclui.

Próximos Passos

Para garantir que o corpo técnico do Estado esteja preparado para elaborar a legislação sobre a transição energética, Artur Falcette anuncia mais eventos e discussões com especialistas, como Nathalia Weber, visando aprofundar o conhecimento sobre tecnologias de captura e armazenamento de carbono, além das regulamentações que vão guiar esse processo.

Com potencial vasto e estratégias bem delineadas, Mato Grosso do Sul se posiciona para liderar a transição energética no Brasil, tornando a descarbonização um dos pilares de sua política energética.

O Estado, que já é referência em energia renovável, se prepara para um novo capítulo em que inovação e compromisso com o meio ambiente caminham juntos.

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