A proposta de lei recente que visa banir o TikTok nos Estados Unidos tem provocado uma mistura de frustração e mobilização entre os criadores de conteúdo e usuários da plataforma, em um cenário onde a inovação digital e o empreendedorismo estão entrelaçados. Avançando rapidamente pela Câmara dos Representantes e agora encaminhada para o Senado, a medida coloca em discussão a liberdade de expressão e a economia digital baseada em aplicativos.
V Spehar, um influente criador de conteúdo no TikTok, emergiu como uma voz proeminente contra a proibição. Sua participação em Capitol Hill, representando a plataforma durante o depoimento do CEO Shou Zi Chew perante o Congresso, ressalta a seriedade com que a comunidade do TikTok encara essa ameaça.
A preocupação não é infundada. Se aprovada, a lei exigiria que a ByteDance, empresa chinesa proprietária do TikTok, vendesse o aplicativo. A recusa da China em aceitar tal venda poderia tornar ilegal a distribuição do app em lojas de aplicativos, afetando mais de 170 milhões de usuários americanos.
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O TikTok, por sua vez, está incentivando seus usuários a contatarem seus representantes no Congresso para expressar oposição à legislação. A reação tem sido intensa, com escritórios de legisladores relatando um alto volume de chamadas de usuários indignados, um cenário que chegou a ser satirizado pelo apresentador Stephen Colbert.
Para os criadores que dependem da plataforma como fonte de renda, a ameaça de proibição do TikTok é uma questão séria. Jules Terpak, comentarista de tecnologia da Geração Z no TikTok, observa que o processo legislativo está ocorrendo de forma surpreendentemente rápida, aumentando a urgência entre os usuários.
A resposta da comunidade do TikTok tem sido vigorosa. Noah Glenn Carter, um criador com 8,7 milhões de seguidores, postou um vídeo insitando seus seguidores a contatarem seus senadores. Outro criador, @cancelthisclothingco, publicou um vídeo de sete minutos para seus 1,4 milhão de seguidores, destacando questões controversas relacionadas à China.
Enquanto isso, o CEO do TikTok tem enfatizado que a empresa não está sob influência do Partido Comunista Chinês (PCC) e que os usuários têm liberdade para postar conteúdo crítico à China. No entanto, legisladores como o senador Tom Cotton têm tentado estabelecer uma narrativa que conecta o TikTok ao Pardido comunista chinês, uma conexão que ainda carece de evidências concretas.
Sarah Philips, criadora de conteúdo e organizadora de direitos digitais na Fight for the Future, argumenta que se a privacidade de dados é a verdadeira questão, o Congresso deveria agir contra corretores de dados, e não contra o TikTok. Ela descreve a discussão sobre a proibição do TikTok como “exibicionismo xenófobo”, destacando a falta de legislação de privacidade digital nos Estados Unidos.
A tentativa do governo dos Estados Unidos de forçar a ByteDance a vender o TikTok remonta a 2020, durante a administração Trump. A rápida evolução do apoio ao novo projeto de lei e a velocidade com que ele passou pela Câmara indicam que o futuro do TikTok está agora mais incerto do que nunca.
Sarah Philips expressa frustração com as atitudes condescendentes em relação aos usuários do TikTok, apontando para postagens que zombam do conteúdo da plataforma. Ela acredita que a falha dos legisladores em levar a sério as preocupações dos usuários do TikTok pode ter grandes implicações para o próximo ciclo eleitoral.
Terpak, com mais de 330.000 seguidores no TikTok, adota uma abordagem mais neutra em relação à possível proibição do aplicativo. Ela reconhece a importância da tecnologia e das mídias sociais em nossa vida, mas também entende a necessidade de uma análise crítica dessas plataformas.
A situação do TikTok nos Estados Unidos reflete um ponto crítico na interseção entre tecnologia, política e cultura. Enquanto o debate sobre a proibição do aplicativo continua, fica evidente a complexidade e o impacto significativo que decisões políticas podem ter sobre a economia digital e a liberdade de expressão.